6 de março de 2013
A imagem é ilustrativa de outra viagem para a Ilha Anchieta. Conforme explicado no texto, infelizmente o conteúdo da história descrita foi perdido.
Inicio o diário de bordo contando como foi os preparativos da viagem. Estava acompanhando diariamente a evolução das previsões de tempo, ondas e ventos, pois ela que iria me garantir segurança pra não passar por situações inusitadas em alto mar. Já estava acompanhando uma possível janela de previsão boa entre o dia 6 e 10 de Março, mas a previsão mudava todo dia. Esperei ate terça dia 5 quando, por estar mais perto, a previsão seria mais fiel. Nesse dia, confirmou ser uma boa data para iniciar a viagem, com ventos mais constantes, não tempestivos nem muito fracos, com pouca chuva no final de tarde e ondas baixas. Decidi tentar ir nesta data, mas tinha plantões agendados ate o fim da semana, então comecei ligar para todos pra tentar trocar. Já tinha desistido quando finalmente consegui livrar todos sob a condição de fazer o plantão terça feira ate as 22 e quarta das 7as13. Decidi ainda assim tentar essa data, e na terça após as 22 ainda fui comprar a lanterna, emprestar a bateria reserva da câmera e chegando em casa, organizar tudo que iria levar na viagem. Dormi 4 horas fui pro plantão já com tudo no carro. Terminando ele, segui direto para pra são Jose, onde pegaria o resto das coisas e o barco. Sai de são Jose por volta das 17 horas. Por volta das 19h30min, estava na balsa, quando lembrei que esqueci a bolina (Estrutura fundamental no barco para conseguir pegar alguns tipos de ventos). Cheguei no hotel que ficaria, ao lado do Caiçara turismo (local onde fiz o curso de vela, e onde me daria apoio durante a viagem), onde tentei uma bolina emprestada, sem sucesso, pois não tinha nenhuma adequada ao meu barco.
Deixei o barco, conversei com o Marcelo, meu professor, pegando conselhos, orientações e combinando contatos, em seguida peguei o carro e voltei rumo a sjc para pegar a maldita peça que estava faltando. Eis que quando era por volta de meia noite, comecei a subir a serra e vejo uma placa dizendo "estrada fechada para obras de duplicação das 00h00min as 04h30min". Ainda na esperança de que naquele dia não teria as implosões na estrada, continuei subindo ate porque naquela altura não teria mais o que fazer ou onde ficar. Dirigi ate o ponto onde realmente estava fechada com previsão de abrir as 04h30min da manha mesmo. Parei o carro e dormi ali mesmo. Acordo as 04h30min, e abrem a estrada somente as 05h10min. Sigo viagem rumo a sjc. Peguei a bolina, aproveitei pra tomar um café da manha reforçado, preparei a mala definitiva para viagem enquanto carregava os equipamentos eletrônicos, para chegar e já ir pra água. Não dormi, e conseguir sair por volta das 7h. Segui rumo a Ilhabela chegando lá por volta das 09h30min, quando imediatamente comecei a arrumar as coisas pois já estava atrasado. Entrei na água por volta das 10:40
Depois de muito sufoco, enfim começou a viagem. O objetivo final era fazer a volta na Ilhabela, a segunda maior lha marítima do país, atrás somente de Florianópolis. Tal viagem já era cogitada há mais de um ano, mas tendo sempre algum fator limitante, sendo tempo, dinheiro ou coragem. O fator que mais impulsionou a fazer a viagem foi a tranquilidade e incentivo dado pelo meu professor de vela, o Marcelo do caiçara turismo, já que todos outros que comentavam diziam que eu ia morrer, tendo ate planejado marcar uma festa de despedida! Ainda com o incentivo, estudei bastante toda costa da Ilhabela (aproximadamente 130km de extensão) com os nomes de pontos geográficos, pontas a cruzar, sacos e baias que serviriam de abrigo, praias aportáveis ou não (depende das ondas e quantidade de pedras no fundo) desertas ou não, relatos de historias de volta na Ilhabela, naufrágios e os motivos, pontos críticos e tudo mais, inclusive as lendas das praias e historias, as quais toda Ilhabela e riquíssima. Alem dos estudos, me preparei com alguns equipamentos mínimos para dar algum tipo de segurança e outros para serem utilizados na viagem sendo eles: Radio VHF, bússola, monóculo, apito, lanterna câmera, equipamento caca subaquática (pontos muito bons pela costa leste da ilha) comidas, roupas, mapa, etc. Quanto ao barco, comprei logo quando fiz o curso, para adquirir mais experiência, estava a bordo de um veleiro holder 12 pés, movido apenas por uma vela e um par de remos (construídos por mim e meu avô) que seriam usados em caso de emergência. É um barco classe laser, sem cockpit, portanto, seu objetivo e mais lazer próximo à costa, não travessias. Apesar de todo planejamento e estudo, não esperava que fosse ser fácil, pelo contrário, estava bastante apreensivo. A ideia era de que a volta fosse completa em 4 dias com margem de 1 dia a mais para imprevistos.
Na saída pela praia do Perequê, o vento de leste estava constante e com força boa. Ventos de leste entram pelo norte do canal de Ilhabela, portanto estava batendo contra a direção que precisava ir. Para que a resultante de um veleiro seja contra a direção do vento, deve velejar como em zig-zague, na diagonal contra o vento (orçar) sendo a bolina (peca esquecida) fundamental para essa manobra. Como a viagem seria uma volta, com retorno ao ponto de origem e previsão de vento em direção constante de leste, seria inevitável pegar trechos em que o vento estivesse contra nos quais o rendimento de kilometragem percorrida com uma mesma intensidade de vento, cai bruscamente. Por isso planejei junto com o Marcelo de fazer esse trecho mais critico com menor rendimento no lado mais abrigado e seguro de Ilhabela, que seria o lado norte e o canal. Logo após as 11 horas, quando sai da praia do perequê já acabou o vento. Fiquei parado boiando andando distâncias quase insignificantes com o pouco de vento que batia ocasionalmente. Depois de 2 horas parado, comecei a descobrir o que realmente significava ficar a deriva, calor absurdo, nauseado pelo barco balançando e com os malditos borrachudos de Ilhabela que também atacam no mar. Naquele momento, me encontrava ao lado de um desses cruzeiros, que estava aportado em Ilhabela, por volta das 13 horas, quando percebi vários botes trazendo as pessoas do centro em direção ao navio. Ao todo passaram uns 5 botes, todos olhando para mim, e fazendo muitas ondas que desestabilizava significantemente meu barquinho de pequeno porte. Alem da vergonha, o medo de que o barco virasse e tivesse o transtorno de desvirar com todos os suprimentos molhados, peguei pela primeira vez o remo e comecei a remar para depois do centro. Quando completou quase que 3 horas a deriva, começou a bater um desespero. O calor era tanto que o suor escorria nos olho e ardia de tanto salgado que já estava. Fui jogar água potável no rosto, e sem exagero, senti a água quase queimar o rosto, também de tão quente que estava. Comecei a sentir dor de cabeça, tontura, e fiquei tentando esconder na mísera sombra que a vela estava fazendo, não adiantando muito. Isso tudo, estava com protetor solar, camiseta manga comprida, óculos, boné, bermuda, colete, e uma mochila com coisas que poderia precisar de acesso mais rápido. A câmera nessa altura já não ligava mais por causa do aquecimento, estava no suporte da gopro tomando sol também. Pensei em pular na água, mas achei melhor não sair do barco, arriscar virar ele pra subir ou molhar as coisas. Nesse ponto decidi parar na praia mais próxima e ficar em alguma sombra... Fui cada vez desanimando, pois naquelas condições, nunca seria possível alcançar meu objetivo do dia, que seria a praia da fome ou arredores. Peguei o remo e comecei a remar sentido praia dos barreiros. Percebi o quando remar era ineficaz. Fiquei quase que 1 hora remando para chegar à praia, a todo o momento pensando que ia desistir, voltar e tentar no dia seguinte porque naquele vento seria impossível. Chegando na praia comecei a sentir umas rajadas de vento entrando pelo sul do canal. Tomei um banho de mar, sentei na sombra e liguei para o Marcelo comunicar a situação que me confirmou que estava começando a entrar vento lá também. Pouco depois, de fato começou a ventar. O vento me animou de novo, e como combinado com o Marcelo, seguiria ate ponta das canas para decidir se seguiria viagem ou então pararia em uma praia ali perto, a praia da armação.
A ponta das canas é o farol no noroeste da ilha, onde canaliza bem ventos leste, batendo com força, ideal para pratica de kite e windsurf. De fato quando cheguei La, tava ventando bastante e com bastante ondas pequenas. Apesar de ter batida a primeira adrenalina da viagem, pois o vento tava forte, facilitando o barco a virar em qualquer erro de comando, decidi prosseguir ate a praia do jabaquara, a mais próxima dali, já localizada na costa norte de Ilhabela. Fui orçando a todo o momento, já que o vento estava completamente contra, mas animado pois tinha vento e o barco estava avançando sentido ao objetivo. Quando por volta das 17 horas, percebi uma queda gradativa dos ventos a medida que o sol ia se pondo. As 18 horas, ainda claro, o vento ficou mínimo. Já havia avistado a praia do jabaquara, mas ainda me encontrava um pouco longe. Tentei chegar à praia com o vento, mas o que avançava velejando, a correnteza me trazia de volta. Coloquei a vela pra aproveitar o pouco que tinha de vento e comecei a remar. Com o remo, depois de 1 hora nessa situação, cheguei perto da praia. Logo quando cheguei percebi que as ondas não estavam tão pequena quanto imaginava, então decidi ir pro lado direito da praia que era mais abrigado. No caminho avistei pedras no mar, e fiquei com medo de ir por ali e quebrar alguma coisa nas pedras, então decidi tentar aportar no meio da praia. Preparei tudo e aproximei com o remo, tentando evitar me molhar pois já era noite. Esperei passar as ondas e na calmaria entrar com tudo. Quando vi uma oportunidade, comecei a remar forte. Tudo dando certo quando de repente forma uma maldita onda atrás do barco. Pulei na água correndo e comecei a puxar o barco pra praia. Nada disso foi suficiente, a onda quebrou exatamente em cima do barco, molhando tudo com água salgada e enchendo de areia. No embalo puxei o barco pra areia o possível, abri a butija pra drenar a água e fiquei uns 5 minutos parado, olhando pro barco, inconformado com tanto azar. Quando percebi que não ia adiantar ficar ali parado sendo comido pelos borrachudos, tirei toda roupa encharcada, fiquei de sunga, e coloquei uma blusa e calca impermeável com gorro pra proteger dos borrachudos e fui puxar o barco mais pra cima abrigado das ondas. Percebi nessa hora que a praia era inclinada, e que eu não conseguia puxar o barco sozinho para cima apesar de ter tentado bastante e machucado todos os dedos. Sentei mais 5 minutos inconformado. Comecei a tentar puxar ele meio de lado, levantando a proa e no final consegui subir um pouco ele para uma altura que as ondas já não alcançassem. Abaixei a vela, desmontei o necessário, guardei o que era preciso, tomei um gole de água e deitei no barco, em um espaço que tinha arrumado (a barraca estava encharcada). Abdiquei do tempo que tinha para comer e fiquei deitado, não tinha a menor fome para abrir a mala pegar comida ainda que a única refeição do dia fosse o café da manha. Peguei no sono molhado, cheio de areia, xingando tudo que era possível e lamentando que já fosse desistir no 1 dia, pois no dia seguinte iria embora de qualquer maneira.
Eis que no meio do sono, acordo assustado com barulho de água bem próximo de mim. Percebi que a maré estava enchendo. fiquei um tempo parado confirmando se iria precisar vencer a preguiça para puxar o barco mais pra cima, e de fato foi necessário. Puxei o barco pra cima para uma área aparentemente segura para que não precisasse acordar mais. Deitei novamente, olhei o relógio que marcava 0:00, olhei para o céu que estava todo preto. Achei que pudesse vir chuva, e como já estava molhado e já estava com um pouco de frio, decidi colocar a roupa de neoprene também molhada para passar o restante da noite e também para caso de chuva. Em poucos segundos apaguei e dormi todo o restante da noite.
Acordei no dia seguinte entre 7 e 8 horas da manha com o sol batendo na cara e bastante calor, pois tava com bastante roupa apesar de molhada. O tempo estava completamente aberto, mas zerado de vento... não preocupei muito pois era essa a previsão. Sentei no barco, olhei pro lado e tomei um puta susto com um cachorro parecido com labrador, marrom, que tava sentado olhando pra mim. O coitado também tomou susto, mas logo depois já veio brincar. Comecei a arrumar o barco, lavando as coisas, tentando tirar um pouco da areia que tinha entrado nele e organizando a bagunça que tava. Encontrei um riozinho de água doce e usava a dele pra lavar as coisas, principalmente as roupas. Depois de tudo arrumado à medida do possível, comi algumas coisas que tinha levado, pois tava muito tempo sem comer. Tinha acordado bem disposto, consegui dormir o que não tava dormindo nas noites anteriores ainda que não tivesse nas melhores condições. A ideia de desistir já não era tão forte mais, inclusive já estava mais animado para tentar seguir viagem. Peguei o equipamento de mergulho e fui ver como estava a água para mergulho nas pedras do jabaquara. Entrei na água e a água tava animal, uma visibilidade de uns 10m que não via desde que comecei a tentar caca submarina. Sai logo correndo pegar o arpão, a faca, o cinto de lastro e tudo necessário pra tentar arpoar um peixe. Não peguei nenhum, e uns 30 min depois começou a ventar bem, corri pra montar o barco pra tentar aproveitar o vento.
Felizmente, em uma das poucos fotos recuperadas, registrei o cão amigo.
Sai rumo a costa leste de Ilhabela, entraria pela primeira vez em mar aberto, desabrigado, sem muitos pontos de paradas de emergência, já que nesse lado mais inóspito, tem muitos costões de pedras com poucas praias, sendo que algumas praias ainda tem muitas pedras e são perigosas para entrar. Tinha a preocupação pois havia ficado de avisar o Marcelo que havia alcançado meu destino, mas na praia não conseguia contato com o delta 24,canal onde iria contatar o Marcelo. Quando fui dormir a bateria estava máxima, então deixei o radio ligado achando que consumia pouca bateria, para caso o Marcelo viesse em resgate chamando meu nome pelo radio. Pela manha a bateria estava mínima. O vento estava bom, então sai do Jabaquara andando bem e segui orçando rumo saco do Eustáquio (local com bom abrigo para passar a próxima noite). Depois do primeiro dia, tentei ter aproveitamento máximo para alcançar rapidamente a costa leste antes das 12 onde possivelmente iria zerar o vento novamente ate umas 15 horas. Apesar da distância não ser tanta, ela se multiplicava por estar contra o vento novamente. Avistei a ilha de búzios e o farol da ponta grossa que delimita o inicio do lado leste de Ilhabela por volta das 11, segui em direção a ele. A algumas dezenas de metros da ponta de pedras a ser cruzada comecei a sentir o vento minguando. Nessa hora estava velejado um pouco mais perto da costa pois já estava com um pouco de medo, já que ali estava em mar aberto, com ondas maiores de pelo menos 1 metro. Depois de pouco tempo o vento zerou de novo. Estava bem próximo das pedras que delimitavam o cruzamento pro lado leste. Fiquei mais uns 40 minutos parado na esperança de voltar o vento, sem sucesso. A mesma maldita situação de deriva com um calor infernal, borrachudos no meio do mar e impotente. Comecei a pensar então na possibilidade de estar na sombra de vento do farol da ponta grossa, já que eu estava relativamente perto da costa com uma pequena montanha na minha frente. Mirei então o alto mar e começar a tentar abrir pra fora pra tentar cruzar essa ponta, as vezes até ajudando com o remo. Quando um pouco pra fora, decidi tentar cruzar essa transição onde quebrava ondas no costão de pedra. Ainda que eu quisesse passar bem longe desse costão, nem com ajuda do remo estava conseguindo me afastar, e decidi então usar o remo para passar essa parte o mais rápido possível. Arrisquei fazer a travessia ainda que sem vento pois pelo tamanho otimismo, achei que depois da ponta poderia estar ventando o vento leste, o qual eu navegaria de través (posição do barco em relação ao vento, uma das melhores para velejar), e não mais precisaria orçar contra ele.
Cruzei a ponta onde estavam quebrando varias ondas no costão de pedra praticamente remando, o mais rápido possível, para não ser jogado na arrebentação. O pouco vento que batia não era suficiente para vencer sozinho a pouca correnteza que me empurrava sentido contrario. Quando consegui passar, percebi que realmente não tinha vento, estava novamente em uma calmaria, a deriva. Nessa hora bateu um desespero. Olhei em volta e percebi que não estava a uma distância segura das pedras. Remava pra fora e não parecia estar me afastando absolutamente nada. Olhei pra frente, não via nenhuma praia como abrigo, somente a ilha da serraria, nome dado por estar na frente da praia da serraria, que seria a mais próxima de onde estava, e ela estava muito longe! (quando voltei descobri que na realidade a praia fica um pouco antes da ilha, mais próxima de onde eu estava). O pouco vento que batia estava de sudeste (não leste como imaginava), contra a direção que precisava para ter segurança em relação as pedras e para alcançar a próxima praia. Fiquei em agonia sem saber o que fazer e pelo desespero, comecei a criar na minha cabeça que eu estava aproximando das pedras muito rápido e que se ficasse parado ali ia acabar naufragando. O radio mostrava bateria no mínimo caso precisasse de socorro. Tentei chamar no radio para testar mas não conseguia resposta com o delta 24, canal onde podia pedir socorro ao Marcelo. Passei pelo menos 1 hora nesse lugar nesta situação. Neste tempo tentei me acalmar, e comecei a ponderar as possível situações. Em um a delas, seguir ate a praia da serraria, ainda que estivesse calmaria, contava com a volta do vento no final da tarde como costuma acontece e de fato acabou acontecendo mais tarde. A praia da serraria era muito mais perto para chegar do que voltar. O problema seria se voltasse o vento um pouco mais forte mas de sudeste, pois estaria contra, e se não chegasse a serraria, estaria completamente desabrigado. Alem disso, parar na serraria significaria atrasar também o segundo dia de viagem, sendo que ainda nem havia passado pela parte mais critica da travessia, inviabilizando que completasse a volta em 5 dias que seria o tempo máximo que eu tinha já com a margem de segurança (tenho plantões agendados em SP, e não tenho sinal de telefone para passar eles.) A outra opção seria voltar para praia do Jabaquara e desistir da volta. Nesta opção, eu contaria pela primeira vez na viagem com vento de popa, completamente a favor, com possíveis abrigos na praia do poço e praia da fome, aproximando da área mais segura e não seguindo em direção a parte mais perigosa da viagem que ainda nem tinha chegado. Nessa altura o dilema diário de seguir em frente ou desistir já estava pendendo pra desistência. Fica mais difícil ainda por estar sozinho, não ter ninguém pra opinar, incentivar ou compartilhar os imprevistos. Depois de um bom tempo ponderando, ainda que contra meu ego, decidi voltar com segurança e desistir da viagem.
A volta foi tranquila, com vento a favor, ainda que fraco, acabei conseguindo desviar com segurança das pedras e ondas quebrando na ponta grossa, deitei no barco e aproveitei a viagem com mais tranquilidade só controlando a direção do leme. O vento realmente aumentou como previsto e cheguei à praia do Jabaquara ainda no entardecer. cheguei tranquilo quanto as ondas, Tive bastante tempo para arrumar as coisas, lavar com água doce tudo, tirar areia, brincar com o novo cachorro vira-lata que não saia do meu lado e preparar para dormir. Pro jantar teve sardinha enlatada, Pringles e bolo de chocolate. Tentei comer pão com manteiga inicialmente, mas o pão estava tudo amassado e a manteiga aviação em lata, quando abri espirrou óleo (óleo mesmo, como quando coloca manteiga em panela quente). O chocolate completamente derretido. Peguei o celular para ver se arrumava sinal, mas estava muito lento, travando tudo, não reconhecendo o TIM chip nem o cartão Sd, com o a parte cromada dele descascando, possivelmente pelo calor que passamos. A gopro não dava nem sinal de vida nessa altura.
Subi o barco desta vez pra uma altura adequada já conhecida, coloquei uma camiseta seca e as roupas impermeáveis pra proteger dos mosquitos. Tomei um dramin de sobremesa e dormi vendo o céu que estava animal, completamente estrelado.
Acordei no meio da madrugada com chuva e estava tão cansado que coloquei uma toalha na cara (único lugar que não estava protegido com impermeável) e voltei a dormir.
Cockpit da Embarcação. Guerreiro Holder 12, companheiro de aventuras.
Minha estadia na praia do Jabaquara
No dia seguinte acordei novamente com o sol na cara. Dia claro sem vento nenhum, igualzinho ao anterior. Comi alguma coisa e nem cogitei averiguar antes a água, já peguei o arpão e fui para as pedras tentar a minha sorte na caça submarina. Estava novamente animal, visibilidade boa, muitos peixes, ainda não tava ventando então a água não estava batendo. Consegui avançar um pouco mais do que o dia anterior. Tive a felicidade de encontrar uma garoupa (muito grande!) que logo saiu nadando e entrou em uma toca a uns 8m de profundidade. Fiquei pelo menos uns 30 min ali mergulhando tentando ver dentro da toca se a encontrava. Seria o meu troféu do dia!. Obviamente não deu certo... Pra variar um pouco não peguei nada, mesmo depois de uns 20 tiros tentando pegar os peixes (que são muito rápidos, malditos.) mas de qualquer maneira foi o melhor dia de mergulho com o arpão que tive... Marquei bem a toca onde encontrei a garoupa, um dia volto pra busca-la.
Um tempo depois começou a entrar vento de novo. Voltei pro barco, terminei de montar ele e já entrei na água rumo ao perequê novamente. A volta, também com vento a favor, foi tranquilíssima, e saindo as 11 da praia do jabaquara, as 14:00 já tinha alcançado o destino. Tamanha diferença o quanto se percorre com vento a favor. Um total de aproximadamente 80 km percorridos.
Bom, apesar de não ter completado a volta, ganhei experiência em muitos aspectos e tive uma noção da dimensão que realmente é essa viagem. Algumas precauções a mais valem a pena serem tomadas. A data sem dúvida estava muito apertada, dificilmente seria cumprida no prazo. Meu barco têm muito arrasto, péssimo para percorrer distâncias orçando. É importante um melhor preparo físico e psicológico, melhor planejar os equipamentos como radio, celular, maquina fotográfica etc. Preparar para situações de deriva! No saldo, todas as fotos que tirei, vídeos que gravei foram perdidos. O cartão SD fritou junto com a Gopro e com o celular, e foi perdido todos os arquivos, só voltando a funcionar depois que formatei o cartão (por esse motivo não tem fotos, os arquivos estavam todos corrompidos). Parece uma viagem simples, mas garanto que não é tanto assim para um barco deste porte. Espero ainda esse ano poder completar o diário de bordo de como foi a viagem completa de volta na Ilhabela.